22 fevereiro, 2007

A arte que abraça

Um final de tarde, um rio, um pôr do Sol.
Ao lado da Usina, um grupo de doidos* grita, se mexe, dança..lançam palavras ao vento...
Ao redor, gatos pingados curiosos, sentados na calçada, admiram boquiabertos a história que, para alguns é mais que batida e para outros, incrível novidade.
Silêncio total.O que se houve são palavras fortes e verdadeiras, trazidas pelo vento.
O palco está armado, a platéia está encantada.O feitiço da arte se alastra, tomando o coração de todos que por ali estão.
Um louco grita de uma janela da Usina..o texto encanta, o sol baixa seu véu.
Os gatos continuam pingados e congelados pela atmosfera..o tempo parou...
De repente, o boneco azul morre.A morte, Ser implacável, sai de cena com ar de vitoriosa.
Mal sabe ela que sua morte faz nascer uma luz para um povo sofrido e precisado de sonhos e ideais.Um tambor começa a tocar..um triângulo...violas e rapidamente o Sul vira Sertão e todos nós somos cangaceiros..os quadris começam a se mexer inconscientemente.O sangue esquenta..o corpo treme..quer dançar, quer fazer parte, quer gritar...
Dois pequenos gatos pingados se levantam (sempre as crianças) e se metem no grupo..a música aumenta..agora somos todos parte do espetáculo...
Uma roda gira e com ela um senhor muito simples conquista espaço nessa sociedade excludente e ignorante. Ele bate palmas, dança, abraça os artistas, participa.
Agora somos todos iguais, somos todos irmãos...

Mas não era para ser assim sempre????

Agora temos lágrimas nos olhos
O sonho tornou-se realidade...
E depois dizem que o povo não gosta de cultura...
Experimenta dar um espaço...


“Deixe-me viver
Deixe-me falar
Deixe-me crescer
Deixe-me organizar
Quando eu vivia no sertão
Aos pés de quem devia me mandar
Gemia, calo e dor nas minhas mãos
A canga era pesada pra levar
Aí apareceu pelo sertão
Um Monte que passou a cativar
Tão belo que ajuntou o povo irmão
Patrão e opressor não tinha lá
Canudos outra vez vai florescer
A vida como um galho vai Frondar
A luta pela terra gera o pão
Amores vão de novo começar
Canudos se espalhou pelo país
Embora os tubarões queiram morder
Na roça e na vila, o que se diz: O povo organizado vai vencer
Deixe-me viver
Deixe-me falar
Deixe-me crescer
Deixe-me organizar”


* Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveis, Teatro popular e democrático, com a peça “Saga de Canudos”.

Por: pequena gauchita anarquista

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