20 outubro, 2008

Eu demorei


Sinto até um frio na barriga em escrever aqui depois de tanto tempo. Há um semestre (my God) estou ensaiando articular aqui uma resposta ao lindo texto abaixo, escrito pela mana Taís em homenagem à minha mudança. A verdade é que, apesar de pensar nisso a todo momento, eu simplesmente não tinha idéia de como começar. O processo todo me deixou muda para impressões mais demoradas: foram muitas informações ao mesmo tempo, muitas mudanças, muitos recomeços. E para passar por eles, usei o truque de esquecê-los por um momento, de não ressaltar tanto o deslocamento geográfico. Mudar de bairro é mais fácil do que mudar de cidade, estado e região do país. E, enquanto eu não me adaptava ao novo "bairro", a solução foi pensar o menos possível no impacto que a mudança implicava. Continuo saindo para trabalhar todos os dias, continuo ligando para casa - a casa da minha adolescência - periodicamente, continuo trocando emails com as mesmas pessoas queridas (ainda bem) do início do ano. Os 1500 kilômetros que separam minha rotina da do semestre anterior são detalhe nesse mundo internético e globalizado.

Mentira, é claro. Uma mentirinha encenatória pra aliviar o receio de um imenso passo a ser dado. Mas o fato é que pensar assim tornou tudo mais fácil. Representando um pequeno teatrinho interior, eu consegui enfrentar a imensa realidade de abrir horizontes mais uma vez. Como quando, há doze anos, as vistas se alargaram assustadoramente diante da selva de concreto que invadiu minhas frágeis impressões adolescentes, e que me ensinou a ser gente de verdade. Como quando revi tudo que (não) sabia sobre a vida e reconquistei, a meu modo, a casa que um dia já tinha sido minha. São Paulo - roubando a frase de uma querida amiga, também vivendo longe das plagas paulistas - é meu latifúndio, minha terra-mãe e minha referência maior. Dar as costas para tal mar não é fácil, por mais fortes que sejam os instintos que te movam. Por mais que você saiba que a hora é aquela. Por mais belo e cheio de mistérios que seja o novo horizonte que se vislumbra.
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E ele é mui belo, realmente. De uma beleza diferente, que meu olhar de moradora compara ao antigo olhar de visitante, tentando entender novos contextos. Uma vivência mais afastada dos estereótipos de antes, e mais aberta para a beleza verdadeira que faz um lugar - e que também é composta de suas incoerências, defeitos e carências. Durante esses seis meses em que já aqui estou, tive vontade de escrever sobre muitas coisas. Sobre coisas que tenho visto e aprendido, e também sobre coisas que me fazem lembrar, comparar, sentir saudades. Sobre o amor que sinto reforçado por esse imenso Brasil, de tão diferentes e fortes cores. Sobre aquilo que nos faz ser maiores como pessoas, e sobre aquilo que forma nossa identidade, que nos faz voltar pra casa ao sentir um cheiro, ver uma imagem.
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Acho que, depois de tudo (ou no início de tudo), posso relembrar algumas coisas que redescobri. Redescobri a camaradagem, a amizade e a acolhida. Redescobri como é bom saber que as presenças queridas independem de tempo ou lugar. Redescobri como é amar a família que a gente escolhe. Redescobri como é ser forasteira, ser recebida ao invés de receber. Redescobri como é me perder, traçar novas rotas, e agradecer a boa-vontade de quem está ao lado. Reaprendi a respeitar a história e herança alheias.
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Hoje, depois de conhecer mais uma vez novas histórias e heranças, posso dizer que me orgulho ainda mais por fazer parte também de uma história comum, que tenho alegria em compartilhar, ainda que aos poucos, com os que me rodeiam. Me sinto feliz em ampliar mais uma vez o tamanho da minha alma, provando novas maneiras de ver, sentir e viver. Não há beleza que se compare a conhecer um lugar e sua gente por dentro, por dentro da vida que os move. É a beleza assustadora que senti há doze anos, e que tanto me fez crescer, descobrindo mais sobre mim e meu próprio passado. Beleza que senti também em outras ocasiões, visitando passados milenares de outros viajantes dessa aventura gigante que compartilhamos.
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E agora, mais uma vez, trilho um pouco do meu próprio presente e futuro conhecendo outras belezas. Bonito é partir, e mais bonito ainda levar tudo que amamos com a gente. E descobrir novos amores, belezas e horizontes, sabendo que, assim, basta um piscar de olhos, ou um ollhar para o lado, para se voltar pra casa.
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A foto acima foi roubada do orkut do querido amigo Lu, que com olhos de poeta sintetizou aquilo que todo paulistano deseja: ver sua cidade livre, leve e solta, debaixo de um céu de brigadeiro. :)

30 abril, 2008

Carta de uma pauliúcha para a mais nova Prenda do Rio Grande

Quando mudei para Porto Alegre, quatro anos atrás, sentia muita necessidade de contar o que estava vivendo, sentindo e aprendendo.Comecei então a escrever e-mails gigantescos para os amigos, falando das belezas, descobertas e aventuras por este Pampa sem fim.
A vontade de falar sobre o Rio Grande cresceu e juntamente com a saudade que eu tinha de Sampa Jú e eu decidimos criar este espaço virtual interestadua.Para unir amigas que viviam em estados diferentes.
O Rio Grande me acolheu de braços abertos (assim como meu gaúcho!).Aos poucos fui criando raízes, fazendo amizades, descobrindo cantinhos que amo e lugares que não quero mais voltar.
Meu amor por este povo e por esta terra cresceu (e ainda cresce) a cada dia.Chamados de “bairristas” por amarem e defenderem suas terras e histórias os gaúchos tem muitos ensinamentos e exemplos a serem seguidos como o amor pela cultura gaudéria, expressa por exemplo no churrasco, nas danças no CTG, o chimarrão faça chuva ou sol; a dedicação e força nas lutas (Revolução Farroupilha, Fórum Social, destruição do relógio da Globo) e o romantismo ímpar que só pode existir naqueles que tem um Pampa para se olhar...
Dificuldades?Sim, existem muitas.Pontos a melhorar? Também...mas perceber a alegria e o orgulho dessas pessoas em receber mais uma pessoa para fazer parte desse povo compensa essa imperfeição.
Desejo que sua acolhida, cara irmã, seja tão maravilhosa como a minha.Que o Guaíba te receba de braços abertos, o Minuano acaricie seus cabelos, que o mais belo pôr do sol do mundo encha seus olhos e –é claro- que seu gaúcho aqueça seu coração sempre ;)

Abaixo, listei algumas coisas que fui descobrindo ao longo desses 4 anos por aqui.A lista é enorme, mas o momento permite.Certamente muitas ficaram de fora, mas para completar a listagem conto com a ajuda dos gaúchos e gaúchas que acessam este blog...

Em Porto Alegre (e no Rio Grande do Sul) Juliana descobrirá que...

- Vai precisar passar na casa de câmbio e trocar seus "conto" por "pilas;
-Ler em um cartaz “Temos cacetinho novo” quer dizer apenas (e nada mais) que o pão francês acabou de sair do forno;
-A rede Globo é sintonizada no canal 12 e o SBT no 5;
-Gaúcho “olha” filme, “olha” novela;
-Ouvir “eu me acordei” ou “eu me operei” não significa que os gaúchos desenvolveram a capacidade de se auto acordar ou auto operar...quer dizer apenas que acordaram ou passaram por uma cirurgia;
-Vianda = Quentinha;
-A lá Minuta = PF;
-Torrada = Misto quente;
-Lanche = ato de lanchar e não um sanduba qualquer (para dizer sanduba use sanduíche);
-Levar uma mijada não é ser atacada por urina voadora.Quer dizer apenas que você levou uma bronca (as variações são “ótemas”: Saímos todos molhados de mijo daquela reunião...);
-Deixar “cair os butiás do bolso” é ficar chocada (ou pretérita) com alguma situação;
-“Bem Capaz!” é tão usual quanto o Bah e não quer dizer que a pessoa não acreditou em você, é justamente uma forma de reforçar sua fala;
-O “Bah” possui 895.598.325.6985.25478.698.963.369.258.852.14.740 flexões;
-“Balada tri a fú” é uma balada muito show;
-Carregar os “mijados” de um lugar para o outro é levar as trouxas, as malas, os pertences;
-A música crucial, que simboliza o fim do domingo e a proximidade da sagundona não é mais a trilha do Fantástico, mas a abertura do Tele-Domingo;
-Os filmes que “dão” na “Tv Ulbra” são muito bons;
-“Histórias Curtas” é "bem bom";
-Que dá tempo ir para casa, largar “os mijados”, tomar banho, trocar de roupa e só depois ir para o happy hour (não balada!) tudo isso antes das 20h;
-O SPTv não existe aqui, nem o Márcio Canuto.No lugar “dá”o jornal do almoço e o RBS Notícias, com as “notícias do Rio Grande” no mais belo sotaque gaúcho;
-Ir ao “Super” para fazer “Rancho” é ir ao mercado para as compras do mês;
-Cachorro de rua chama cusco;
-"Tá, deu pra ti" é uma ótima forma de teminar uma frase, um dia ou tarefa;
-“Farol” é “Sinaleira” e fica junto à faixa de pedestres e não do outro lado da rua como em Sampa (não sei se deu para entender..precisa tentar atravessar para compreender!);
-Fatalmente você sofrerá um “ataque das lajotas assassinas e soltas” do centro de POA;
-No mesmo tempo que você gastava da sua casa no Jaba até a Vila Olímpia tu chegas em Gramado e...bem...TU CHEGAS EM GRAMADO..CERTO??!!;
-Escolher entre azul e vermelho pode ser perigoso;
-Nem todos gostam do dia de Passe livre.
-O Hino do Rio Grande do Sul é cantado em TODOS os eventos independente do tamanho, local ou razão.As vezes pode acontecer de cantarem apenas o Rio Grandense e deixarem o nacional de lado..aliás, permitam-me uma correção...o nacional passa a ser o Hino Rio Grandense, compreendem?;
-Poemas no ônibus é tudo de bom;
-O esquilo do Záffari até que é simpático;
-A cultura transborda pelos bares, barzinhos e demais lugares alternativos da cidade;
-O Nenhum de Nós vive fazendo show de graça;
-Brique é BEM mais bonito SÁBADO que domingo;
-Céu azul, sem nuvens não quer dizer temperatura acima de 10 ºC;
-A sobremesa já está inclusa no valor do buffet;
-Sagú, ambrosia e torta de bolhacha não falta nos restaurantes;
-Ruas: Voluntários da Pátria, Pinto Bandeira e Vigário José Inácio = 25 de Março;
-Carne não é acompanhamento;
-No HPS você não fica mais de 30 minutos para ser atendida e a triagem é feita por faixas coloridas no chão;
-O hospital aqui é “de” Clínicas e não “das” Clínicas;
-A pobreza fica "estratégicamente" localizada;
-Feira livre não tem pastel (um absurdo);
-“Patrola” faz mais sucesso com a gurizada do que Luciano Huck;
-Motoristas e cobradores dizem "Bom dia" e agradecem o pagamento;
-Vai entender por que quase todo Porto alegrense odeia o muro da Mauá;
-Esperar por Setembro, até a Feira do Livro é a coisa mais inteligente a se fazer;
-Ficar “atucanada” ou “tri atucanada” é o mesmo que ficar noiada, ou super noiada;
-“Dar uma rateada” é fazer algo errado, pisar na bola;
-Que “bah, pior” quer dizer “puts, é verdade”;
-“Não dá nada” é o mesmo que não te preocupa;
- Marronzinho aqui é Azulzinho;
-Aqui eles comem “bergamota” ou “berga” para os íntimos e não mexerica;
-Que “frio de renguear cusco” é um frio “a fuder”;
-Que o melhor cobertor de orelha é gaúcho;)
Enfim, vai descobrir que o povo gaúcho tem muito a ensinar, afinal como diz no Hino:
“Sirvam nossas façanhas de modelo à toda Terra”.
Seja Bem Vinda!

20 março, 2008

Recado para você Jú!

Os amigos aí de cima estão com saudades e aguardam sua próxima visita ao Mercado Público de Porto Alegre ;)
Por: gauchita

28 fevereiro, 2008

Na terra dos Manezinhos (ou quase)


No mais recente Carnaval, cheguei um pouco mais perto de um feito para cuja realização venho acumulando tentativas já há alguns anos: voltar a Floripa, a Ilha da Magia. Estive lá há muito tempo, quando tinha dez anos de idade (não vou dizer quantas décadas faz isso!!), e pouco me lembro da região, o que é realmente uma pena. O esquecimento infantil e involuntário só tem aumentado minha curiosidade, desde então, por voltar à ilha, sempre que ouço histórias sobre a beleza e as surpresas do lugar.
Pois bem, nesse feriado carnavalesco, de novo, achei que iria concretizar o tão esperado retorno. Algumas idas e vindas pelo meio do caminho, no entanto, fizeram valer a tradição: na última hora, meu destino mudou, embora dessa vez para paragens muito próximas do objetivo original. Fomos a Bombas, praia que fica quase ali ao lado, num passeio que valeu também muito à pena. Bombas e sua vizinha Bombinhas fizeram com que o feriado passasse muito mais rápido do que desejássemos. A cor azul-esverdeada do mar, as ruas simpáticas e o vento da praia tornaram duas vezes mais difícil a volta para a Paulicéia.

Bem, mas para além da beleza do lugar, não poderia deixar de registrar algumas coisas pitorescas que me chamaram a atenção. :) A primeira, sobre a qual já tinham me advertido, foi para não me frustrar por não ter ido a Floripa, já que, pelo visto, é fenômeno recorrente a todas as praias ali: a enorme, incrível, onipresente presença (merece a redundância, pois é grande mesmo, rs) de argentinos, portenhos e afins no litoral catarinense. A ponto de muitas das placas e até mesmo as faixas dos camelôs na praia serem escritas em duas línguas. A ponto de, na pousada, a nossa mesa ser a única, entre os hóspedes, em que a conversa era falada em português. Impressionante a predileção dos hermanos pelas praias de SC. Em certos momentos, cheguei a me perguntar se estaria realmente no Brasil, rs.

E a segunda coisa que me chamou a atenção é – pronto! – a também onipresença dos gaúchos naquelas paragens. Pelo que entendi, em temporadas, SC é invadida por gente vinda do sul e do oeste, de dentro e fora do país. Andando na rua, mais de uma vez nos deparamos com prédios de apartamentos com a bandeira do RS orgulhosamente estirada nas janelas. Num passeio de veleiro que fizemos, o monitor perguntou: “existe alguém do Paraná aqui?” Nada. “Existe alguém de São Paulo?” Incrivelmente, só eu (nesse momento me perguntei para onde foi todo aquele povo que me fez amargar 12 horas de trânsito na estrada até ali). E quando ele perguntou “Alguém do Rio Grande do Sul?”, o veleiro INTEIRO se pôs a cantar: “Ouve o canto Gauchesco e brasileiro, desta terra que eu amei desde guri”...

Pois é. Já fui chamada de bairrista algumas vezes pelo modo como falo da minha terra natal. Talvez eu seja mesmo, um pouco mais ou um pouco menos, como todo paulista. O bairrismo paulistano se mostra de forma menos ostensiva do que o gaúcho (aliás, existe algum povo mais ostensivamente bairrista do que o gaúcho? Digo isso em tom de observação, não de crítica, que fique claro, hehe). Mas somos bairristas à nossa maneira quando acreditamos, por exemplo, que paulistano não tem sotaque; que, para fora de São Paulo, o mundo se divide não em cidades, mas em dois ambientes denominados “campo” ou “praia”; que, apesar de todas as mazelas, não há lugar melhor para se prosperar e viver bem do que a terrinha da (ex-)garoa. Esses são alguns exemplos, exagerados porém reais, de manifestações bairristas que já presenciei por aqui.
Não me considero cultivadora de nenhuma delas, mas devo dizer que, nesta viagem, estranhei mesmo, um pouco, a ausência paulista na vizinhança. Não por sentir falta, propriamente. Mas porque, viajando pelas praias por perto de SP, é comum encontrarmos hordas de paulistanos tentando aproveitar os feriados em meio a uma multidão similar à dos engarrafamentos diários na capital.
Ao ver praias de outro estado tomadas por caravanas de pessoas que não eram daquele local de origem, mas que imprimiam uma marca tão sua ao lugar, me pergunto o que, naqueles dias, seria feito dos catarinenses. Deviam estar um tanto acuados, talvez, como ficam os nossos caiçaras daqui, ao ver suas terras invadidas por gente de fora, tentando emprestar um pouco dos ares marítimos que eles vivenciam em tempo integral. Ou talvez estivessem felizes, aproveitando o movimento para aquecer a economia.
De qualquer forma, com ou sem "estrangeiros" (afinal eu também fui uma), o passeio foi lindíssimo e de renovar a alma. Impressionamente como o sul oferece, na verdade, inúmeras (e inesperadas) chances de comunhão com a natureza e interação cultural. Pra nenhum bairrista ou cosmopolita botar defeito. :)
Por Paulista, já quase bi-cidadã :)

01 fevereiro, 2008

Feriadão típico


Vida de gaúcho é assim mesmo.
Passa a semana toda pensando no feriadão
Em Santa.
Imagina as praias que vai visitar
Em Santa.
Prepara a mala, com roupas para o carnaval que vai curtir
Em Santa.
Daí chega o final de semana, entra na previsão do tempo e descobre que vai chover
Em Santa.
Que beleza!!!
Por gauchita