17 novembro, 2006

Mundo


"Quando a chuva cair
Claro que vou correr...
Mas não vou deixar de curtir o vento
Somente porque ele precede a tempestade... "

Bom findi...

Por: gaúcha


Ilustração:Stephanie Pui-Mun Law

14 novembro, 2006

Arrivederci, Roma


Sempre tive uma queda por grandes cidades. Quando morava no interior, apesar das belas paisagens e do ar puro, fazia-me falta a vida, o movimento de São Paulo. Quando voltei, passados os primeiros tempos de adaptação do meu olhar – que àquela altura já era interiorano – me senti de novo em casa. A sensação de multidão, de diversidade, de inesperado me seduz. Sou bicho de cidade grande, apesar de todas as suas mazelas.

Natural, então, que uma das minhas maiores expectativas na peregrinação à Itália fosse a nossa visita a Roma, a Cidade Eterna. Como última parada do itinerário, nos prometia um gran finale. E por tudo que já conhecíamos e tínhamos lido, ouvido falar sobre ela, era nosso suspense constante. A cada cidade, a cada beleza inacreditável que víamos, pensávamos: o que encontraremos, então, quando chegarmos a Roma?

Expectativas contrárias, da mesma forma, não faltaram. Nos diziam que o povo de Roma seria intransigente, distante, pedante. Que em Roma não encontraríamos o mesmo tratamento que nos dispensavam no interior, onde fomos acolhidos como filhos e amigos. Que em Roma chove muito, embora seja uma cidade quente e abafada (nada a que nós, paulistanos, não estejamos acostumados). Que lá não se pode confiar em qualquer um, que se deve manter as bolsas e sacolas sempre à vista (alguém já viu isso em algum lugar?).


Bem, esperamos. E finalmente, no dia 20 de outubro, chegamos a ela - que nos recebeu com chuva, a primeira depois de 25 dias de sol na Itália. No dia seguinte, mais chuva. Mas nós, bravos paulistanos que somos, colocamos a bolsa nas costas e saímos explorando aquele mundo tão diferente, tão novo para nós.

E vou te falar, mano: Roma é tudo de bom. Para ela, faltam palavras. Ali, reconheci de cara esse espírito meio vagabundo das cidades grandes. Secular, milenar, porém. Uma cidade com todos os problemas da atualidade – mas talvez a única capital viva do mundo que é construída em cima de história pura, das ruínas e trajetórias de três ou quatro civilizações diferentes.
Muitas vezes não vale a pena pegar ônibus ou trem para conhecê-la, apesar de as distâncias serem grandes. Uma caminhada acaba sendo útil para queimar as gorduras de quilos e quilos de macarrão e pizza e para descobrir seus segredos, encravados entre as ruas de arquitetura medieval e clareiras urbanas: vire uma esquina e você dará de cara com a Fontana de Trevi. Outra, com uma das famosas piazzas onde foi filmado este ou aquele filme. Outra, com a igreja que abriga alguma obra de arte. E para descansar, uma parada em algum dos inúmeros pontos do comércio de rua - que durante o dia é uma festa. Pode-se encontrar de tudo nas barracas dos ambulantes de Roma: desde vestidos de noite até uma cozinha completa.

Bem verdade que, na correria de todos os dias, o habitante de Roma nem sempre consegue desfrutar ou explorar todos os seus tesouros – um pouco como nós paulistanos, que passamos todos os dias pelas belezas (escondidas ou não) da nossa cidade e só reparamos, de novo e de novo, no trânsito. E o trânsito de Roma é uma loucura, muitas vezes pior, penso, que o de Sampa - especialmente no centro da cidade, onde não se pode entrar de carro, salvo com autorização especial (ponto para as famosas motos italianas que dominam a cidade, ágeis, capazes de driblar o espaço reduzido das ruas seculares melhor do que os grandes carros modernos). Mas o romano que se preze, que ama e se orgulha de sua cidade, gosta de mostrar os tesouros da capital. Sem problema se o dia de trabalho o impede de acompanhar um visitante: a noite romana também é imortal.

Roma não possui um grande bairro de bares, uma "Vila Olímpia" ou uma "Vila Madalena". Mesmo nas regiões onde se concentra a vida noturna, os bares e danceterias são distribuídos pelas vielas, becos, em todos os lugares onde seja possível construir algo novo sem ferir o patrimônio histórico - diligentemente vigiado pela prefeitura. Em compensação, seus espaços abertos e as praças oferecem cumplicidade ao explorador. Não vou me esquecer da emoção que senti ao virar uma esquina, tarde da noite, e me deparar pela primeira vez com a silhueta monumental do Pantheon, iluminado pela luz indireta dos barzinhos em volta. De calar a garganta.


Para terminar bem o passeio noturno, vale a pena uma visita ao Rio Tevere. Os habitantes de Roma não colocam o rio que a corta a cidade entre as maiores belezas urbanas – talvez imaginando uma competição injusta com outros rios europeus. Mas o Tevere, discreto, escuro, quieto na sua luta contra a poluição (fenômeno que envergonha os romanos que, inocentes, nunca sentiram o cheiro do nosso pobre Tietê), tem um charme único - com sua ilha fluvial à qual se chega à pé, atravessando uma das suas belas pontes, e de onde se tem uma visão privilegiada das margens do movimento urbano.
E as ondas do Tevere, silenciosas e frescas no escuro de Roma, levam os sonhos de uma marinheira de primeira viagem em sua última noite na cidade, coroando um mês de intensa descoberta da alma. Decididamente, um gran finale. Arrivederci, Roma. :)


A foto lá em cima foi tirada em uma das pontes do Tevere - de uma simpatia que está em moda na cidade. É inspirada num filme italiano (não consegui descobrir qual) de alguns anos atrás, em que um apaixonado coloca uma corrente em uma pilastra da ponte, com seu nome e o nome da amada. Desde então, podem-se ver correntes com nomes de enamorados por todo o rio. :)


por Paulista

07 novembro, 2006

Olha o livro, olha o livro!!





Bom..depois dessa viajem maravilhosa pela Itália proporcionada pela nossa mana Jubs fica difícil escrever alguma coisa que possa superar tudo isso!!
Mas, como não tá morto quem peleia, vou falar sobre uma coisa muuuuito típica aqui de Porto Alegre..uma coisa que faz com que os gaúchos parem de comprar livros logo no início do ano e deixem seus “ranchos” literários para os meses de Setembro e Outubro...Mais precisamente para a época da FEIRA DO LIVRO de Porto Alegre.
E com certeza a espera vale à pena..além de muuitas bancas com livros de tudo quanto é editora e assunto, os preços são absolutamente dignos de uma feira livre!!
Tem para todo tipo de freguês: descontos de 20%, cheque para trinta dias e os balaios..os maravilhosos balaios com livros de 2 a 10 “pila”..uma fartura!
Mas o chimarrão sempre presente! (embora eu ainda não me arrisque a me debruçar sobre os livros com uma cuia cheia de água na mão!)
Só para vocês terem uma idéia, em dois dias de visita compramos 10 livros...de tudo quanto é assunto, o que é melhor!!!
Típico também é a chuva.Feira do Livro sem chuva não tem graça...e com a chuva, temos o efeito lajota rolando, não esqueçam!!!
Essa é Porto Alegre...cidade de gente bacana, culta, que lota uma praça, mesmo com chuva para ver e comprar bons livros!
Depois de saciar a fome de cultura uma caminhada até o fim da feira e...
Ops..caramba meu, cadê a barraca do pastel??
Ah..isso faz falta!E como !!!


http://www.feiradolivro-poa.com.br/

Por:gaúcha que não abandona um bom pastel

03 novembro, 2006

Esse é um novo país


Drops de um olhar brasileiro sobre a Itália

********************

O território italiano tem uma história que data de mais de 5 mil anos antes de Cristo. Mas a Itália só existe a pouco mais de 100 anos. Foi unificada como país há muito menos tempo do que os nossos quinhentos anos de história. Mesmo assim, eles acham que a gente nem suspeita do que se trate a história do império romano, ou as idas e vindas da Idade Média. Acham que na escola a gente aprende história só a partir do ano de 1500. Mal sabem que a gente vê três vezes ao longo da vida escolar o sistema social do Feudalismo, mas não sabe construir uma frase em Tupi-Guarani.

De forma que a Itália, ela mesma, é um país mais jovem do que o nosso. Mas que não aceita subestimar as suas origens. Eles sabem a idade e o histórico de cada granitinho que encontram num sítio arqueológico qualquer (e a Itália inteira é um imenso sítio arqueológico, incluindo Roma, onde não se pode fazer um túnel de metrô sem encontrar vestígios de alguma das muitas civilizações que construíram suas casas sobre as civilizações de outros). A grande lição do povo italiano é a forma como preservam seu passado.

O futuro, em compensação, ainda é um pouco incógnito para eles. Há pouco mais de dez anos, deixaram de exportar pessoas para o mundo e passaram a recebê-las. A imigração e os problemas sociais decorrentes disso são assunto novo e desconcertante para o italiano, que ignora os africanos cor moreno-cinza, vindos da vizinha Tunísia, que passam por entre as mesas de bares vendendo rosas. A falta de resposta para eles, que gastam quase 5 minutos em cada mesa, falando e segurando flores, esperando um olhar que não vem, é a mesma da falta de política para absorver os imigrantes.

Não pergunte a um italiano se ele é italiano: ele responderá "sou Genovês", "sou Romano", "sou Sardo". Porque Gênova, Roma e a Sardenha, de onde eles vêm, já existiam muito antes da Itália. As cidades, mesmo que seja separadas por apenas 50 quilômetros, possuem dialeto, datas festivas e vestimentas totalmente diversas umas das outras. Antes de serem cidades, eram vilas formadas em volta de castelos independentes. Cordiais entre si, quase sempre. Iguais, nunca. Há quem diga que os italianos pularão etapas num futuro próximo, culturalmente falando: passarão de cidadãos "regionais" diretamente a cidadãos da UE, sem passar pela auto-identidade da unidade nacional. Talvez seja exagero, mas não deixa de ser uma idéia comprovável em alguns casos.

Andar uma distância de 100 kilômetros de carro é tarefa pra uma tarde inteira. Como 100 km é uma distância muuuuuuito grande, é necessário parar em postos na estrada umas duas ou três vezes ao longo do trajeto. Para tomar um café e descansar.
Mesmo na cidade, o hábito de parar para tomar um café é intensamente exercitado. Mais um menos de dois em dois quarteirões, mesmo que você esteja a cem metros do seu destino.

Na Itália a internet é assunto de trabalho. E raramente alguém leva trabalho pra casa. O hábito de navegar sem rumo pela web não existe, ou existe só para os mais jovens - assim mesmo, não todos.

Eles se espantam ao saber que o Brasil tem uma cidade de 16 milhões de habitantes (Roma tem cerca de 3,5 milhões), e que num país do tamanho do Brasil se fala, em todos os lugares, a mesma língua. Se espantam em saber que temos inglês já na escola fundamental. E que, ao contrário deles, conseguimos falar inglês com uma sonoridade minimamente parecida com... o inglês.

O italiano é bem-humorado, comilão, falastrão e muito, muito latino. E fala idiomas latinos, o que facilita muito as coisas. Alguns dialetos são mais parecidos com o português do que com o próprio italiano. Em uma janta, nosso anfitrião resolveu cantar à mesa uma música em dialeto sardo. Os italianos mais jovens não entenderam a letra. Nós, brasileiros, sim.

Infelizmente, não se ouve muita música italiana contemporânea no rádio. A música norte-americana domina as paradas, muito mais do que aqui (aliás, li em algum lugar que o Brasil é o único país da América Latina onde a música nacional vende mais do que a estrangeira).
Em compensação, é bacana ir numa balada e de repente ver todo mundo, a tantas horas da madrugada, parando de cantar em inglês pra dançar uma seleção de Tarantellas. E com coreografia.

Ninguém pede pizza de oito pedaços pra dividir entre os presentes à mesa. Todos pedem pizza individual. E a pizza individual é gigantesca. Mas boníssima.

Os vinhos italianos são simplesmente inacreditáveis. Mas cerveja boa, mesmo, é a nossa. :)

por Paulista

01 novembro, 2006

Esse é o meu país


Em 40 dias de peregrinação além-mar, aprendi que:

- Estamos acostumados a todas as cores da aquarela. De verdade. É estranho andar em um lugar onde não há japoneses que não sejam do Japão, não há ruivos que não sejam irlandeses, não há loiros que não sejam alemães. A falta de variação incomoda.

- O passaporte brasileiro é recordista em falsificações. Porque não existe um tipo brasileiro: somos de todos os tipos.

- Alguns acham que SP e o Rio são a mesma cidade, e que carioca quer dizer brasileiro.

- Tem gente que acha que aqui se fala espanhol.

- Mas tem gente que acha que falamos "brasiliano". Português, só quem já foi pra Portugal.

- Tem gente que sabe que a primeira Imperatriz brasileira era austríaca, mas não sabe que o primeiro Imperador brasileiro era português. A pátria lusa não é muito cotada na Europa. Mais um traço de identificação?

- A Garota de Ipanema vai ser sucesso lá fora mesmo daqui a mil anos.

- Toquinho também, acho eu.

- Caetano e Gil, só para iniciados.

- Um bar pode se chamar "Café Brasil" e não ter nada brasileiro pra servir.

- Todos adoram os brasileiros.

- E muitos acham que as brasileiras estão aí pro que vier e der.

- O nosso metrô é o melhor do mundo. Sério. A gente consegue ver através das janelas, que não estão totalmente ofuscadas pelas pixações. E consegue não sentir cheiro nenhum nos túneis.

- Aqui as coisas não fecham pro almoço, pra reabrir às 16h30 da tarde.

- É legal ficar feliz ao ouvir o Virundum em algum lugar.

- É legal ter saudade de Sampa.

- É legal ouvir alguém falando português com você, ainda que o português de Portugal.

- É legal sentir a afetividade de um povo tão latino, que tem coração parecido com o nosso.

- É legal ver que aqui tem fila pra idosos, pessoas com deficiência e grávidas.

- É legal ver que muitas pessoas lá fora fogem do senso comum e entendem o Brasil, mesmo sem serem brasileiros.

- É legal gostar mais do seu país depois de sair dele por um tempo.

"Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta".
(Yung)



por Paulista

Dias das Bruxas, minha Bruxa!

Aqui no Sul é muito comum ouvir a galera dizendo:

- E ae meu bruxo?
- Como é que tu tá minha bruxa?

Curiosa com a saudação usada pelos gaúchos fui atrás de seu significado (que, obviamente, não era aquele que eu conhecia...)
Bom, para a gauchada, bruxo e bruxa são aquelas pessoas que você tem admiração, que você gosta.Para os envolvidos em movimentos feministas e/ou comunistas também é uma forma de identificação (me corrijam se estiver errada!)
Bom, para mim que estava acostumada a outro tipo de bruxaria (hehe) valeu a pena conhecer essas outras aplicações do termo...Confesso que já adicionei ao meu vocabulário, embora ainda não consiga sair por aí chamando todos de bruxos e bruxas...

Mas falando em bruxas, esta semana comemoramos o Dia das Bruxas e como eu estava viajando com minha vassoura mágica por aí, publico esta homenagem, atrasada, porém muito especial para todas as irmãs da Arte e principalmente para a Mana Jubs, uma grande BRUXA para mim, em todos os sentidos ;)

Espero que gostem!

Mas e ae minha Bruxa, como foi seu dia aí em Sampa???

A LUA DA CURA
Eu tô grávida
Grávida de um beija-flor
Grávida de terra
De um liqüidificador
E vou parir
Um terremoto, uma bomba, uma cor
Uma locomotiva a vapor
Um corr
edor
Eu tô grávida
Esperando um avião
Cada vez mais grávida
Estou grávida de chão
E vou parir
Sobre a cidade
Quando a noite contrair
E quando o sol dilatar
Dar à luz
Eu tô grávida
De uma nota musical
De um automóvel
De uma árvore de Natal
E vou parir
Uma montanha, um cordão umbilical
,
um anticoncepcional
Um cartão postal
Eu tô grávida
Esperando um furacão, um fio de cabelo, uma bolha de sabão
E vou parir
Sobre a cidade
Quando a noite contrair
E quando o sol dilatar
Vou dar a luz

Grávida
(Marina Lima / Arnaldo Antunes)


“A primavera esparramava-se sobre a cidade como se a mítica nádega de Baubo estivesse exposta,indicando aos mortais que mais uma vez Perséfone se atirava nos braços de Deméter: senhora dos mistérios da terra.Guiada por uma insaciável fome de histórias, eu a seguia como antiqüíssima beata grega, molhando com água-de-cheiro os caminhos por onde seus pés de cristal pisassem.
A roda do ano já havia se enroscado no laço de sua gravidez redonda
e se preparava para engolir os dias e mais uma vez emprenhar.eu, que percorrera as curvas sinuosas do tempo, sentia-me prestes a dar à luz.Porém,intuía a Lua me avisando que o nó ainda não estava arrematado e ainda havia muita coisa no caminho.”


Márcia Frazão em O Feitiço da Lua

Haha! Acharam que fosse meu, heim???
Quem me dera!!!
Por: gauchita