03 novembro, 2006

Esse é um novo país


Drops de um olhar brasileiro sobre a Itália

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O território italiano tem uma história que data de mais de 5 mil anos antes de Cristo. Mas a Itália só existe a pouco mais de 100 anos. Foi unificada como país há muito menos tempo do que os nossos quinhentos anos de história. Mesmo assim, eles acham que a gente nem suspeita do que se trate a história do império romano, ou as idas e vindas da Idade Média. Acham que na escola a gente aprende história só a partir do ano de 1500. Mal sabem que a gente vê três vezes ao longo da vida escolar o sistema social do Feudalismo, mas não sabe construir uma frase em Tupi-Guarani.

De forma que a Itália, ela mesma, é um país mais jovem do que o nosso. Mas que não aceita subestimar as suas origens. Eles sabem a idade e o histórico de cada granitinho que encontram num sítio arqueológico qualquer (e a Itália inteira é um imenso sítio arqueológico, incluindo Roma, onde não se pode fazer um túnel de metrô sem encontrar vestígios de alguma das muitas civilizações que construíram suas casas sobre as civilizações de outros). A grande lição do povo italiano é a forma como preservam seu passado.

O futuro, em compensação, ainda é um pouco incógnito para eles. Há pouco mais de dez anos, deixaram de exportar pessoas para o mundo e passaram a recebê-las. A imigração e os problemas sociais decorrentes disso são assunto novo e desconcertante para o italiano, que ignora os africanos cor moreno-cinza, vindos da vizinha Tunísia, que passam por entre as mesas de bares vendendo rosas. A falta de resposta para eles, que gastam quase 5 minutos em cada mesa, falando e segurando flores, esperando um olhar que não vem, é a mesma da falta de política para absorver os imigrantes.

Não pergunte a um italiano se ele é italiano: ele responderá "sou Genovês", "sou Romano", "sou Sardo". Porque Gênova, Roma e a Sardenha, de onde eles vêm, já existiam muito antes da Itália. As cidades, mesmo que seja separadas por apenas 50 quilômetros, possuem dialeto, datas festivas e vestimentas totalmente diversas umas das outras. Antes de serem cidades, eram vilas formadas em volta de castelos independentes. Cordiais entre si, quase sempre. Iguais, nunca. Há quem diga que os italianos pularão etapas num futuro próximo, culturalmente falando: passarão de cidadãos "regionais" diretamente a cidadãos da UE, sem passar pela auto-identidade da unidade nacional. Talvez seja exagero, mas não deixa de ser uma idéia comprovável em alguns casos.

Andar uma distância de 100 kilômetros de carro é tarefa pra uma tarde inteira. Como 100 km é uma distância muuuuuuito grande, é necessário parar em postos na estrada umas duas ou três vezes ao longo do trajeto. Para tomar um café e descansar.
Mesmo na cidade, o hábito de parar para tomar um café é intensamente exercitado. Mais um menos de dois em dois quarteirões, mesmo que você esteja a cem metros do seu destino.

Na Itália a internet é assunto de trabalho. E raramente alguém leva trabalho pra casa. O hábito de navegar sem rumo pela web não existe, ou existe só para os mais jovens - assim mesmo, não todos.

Eles se espantam ao saber que o Brasil tem uma cidade de 16 milhões de habitantes (Roma tem cerca de 3,5 milhões), e que num país do tamanho do Brasil se fala, em todos os lugares, a mesma língua. Se espantam em saber que temos inglês já na escola fundamental. E que, ao contrário deles, conseguimos falar inglês com uma sonoridade minimamente parecida com... o inglês.

O italiano é bem-humorado, comilão, falastrão e muito, muito latino. E fala idiomas latinos, o que facilita muito as coisas. Alguns dialetos são mais parecidos com o português do que com o próprio italiano. Em uma janta, nosso anfitrião resolveu cantar à mesa uma música em dialeto sardo. Os italianos mais jovens não entenderam a letra. Nós, brasileiros, sim.

Infelizmente, não se ouve muita música italiana contemporânea no rádio. A música norte-americana domina as paradas, muito mais do que aqui (aliás, li em algum lugar que o Brasil é o único país da América Latina onde a música nacional vende mais do que a estrangeira).
Em compensação, é bacana ir numa balada e de repente ver todo mundo, a tantas horas da madrugada, parando de cantar em inglês pra dançar uma seleção de Tarantellas. E com coreografia.

Ninguém pede pizza de oito pedaços pra dividir entre os presentes à mesa. Todos pedem pizza individual. E a pizza individual é gigantesca. Mas boníssima.

Os vinhos italianos são simplesmente inacreditáveis. Mas cerveja boa, mesmo, é a nossa. :)

por Paulista

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